O projeto do novo complexo da Liga Solidária adota como partido a criação de um sistema de eixos que articula e comunica o programa proposto em três edifícios distintos – o bloco dos esportes, o bloco da biblioteca e o bloco do auditório -, articulando-os com importantes edifícios do conjunto atual, tais como a quadra e o teatro. Ocupando clareiras e platôs, o extenso leque de usos se configura em construções poucos verticais e de projeção enxuta, dialogando com a escala e com a composição do conjunto, além de preservar a paisagem e as visuais inerentes ao território.

A proposição do sistema, que ora se desenvolve como marquise, ora como passarela, se fundamenta no princípio da acessibilidade em seu sentido mais amplo: possibilitando e estimulando o acesso às diversas cotas e localidades do terreno e costurando a pluralidade de usos e pessoas ao longo de toda sua extensão. A circulação se organiza em dois tramos distintos, ligando, no eixo norte-sul, o complexo esportivo ao teatro existente e configurando, no eixo leste-oeste, um percurso praticamente em nível entre a biblioteca e o auditório propostos. Além disso, a circulação conecta-se ao sistema viário, adquirindo um importante papel para a rede de serviços e manutenção do programa. Além disso, as passarelas e marquises se organizam cautelosamente em meio às massas arbóreas, fazendo com que poucos espécimes sejam remanejados e grandes movimentos de terra sejam dispensados.

A opção pela criação dos eixos de circulação e a decorrente distribuição do programa em detrimento de um edifício isolado apresenta outras virtudes. Primeiro, valoriza os edifícios já existentes, integrando usos antes dispersos e conferindo uma unidade espacial às atividades da Liga Solidária. Segundo, qualifica caminhos incipientes e já utilizados, porém ainda não consolidados, além de inaugurar relações antes inexistentes com as áreas livres ricamente arborizadas do local. Por fim, tratando-se de um sistema aberto, mostra-se capaz de abarcar novos braços e ramificações, de se conectar com outras áreas ou edifícios, ou de incorporar em etapas projetos futuros que comportem novas demandas da Liga Solidária.

Assim, a técnica construtiva adotada, pautada essencialmente na utilização de estruturas de aço associadas a coberturas leves, possui relação direta com o partido do projeto. Isto é, de forma análoga à unidade espacial que adquire o conjunto através do sistema de eixos proposto, buscou-se uma nítida unidade construtiva por meio do material e da técnica. Sem desconsiderar, é claro, atributos que aqui adquirem primeira importância: baixo peso, construção rápida, soluções simples, sistêmicas e até mesmo reprodutíveis.

Para além da resolução das demandas imediatas, o projeto se revela como uma forma sistemática de abordagem do terreno tendo em vista a pluralidade do programa. Ao fim, a transposição dos platôs, a articulação das cotas de nível e a distribuição dos usos enquanto partido se revelam como uma forma de habitar as suas mais variadas localidades, possibilitando o desfrute daquilo que ele possui de mais valioso: suas amplas áreas livres e a rica gama de atividades que ali acontecem, agora acessíveis à comunidade.

arquitetura

MMBB Arquitetos

Maria João Figueiredo

Marta Moreira

Milton Braga

 

colaboradores

Américo Fajardo

Gabriela Takase

Murilo Romeu

Rafael Migliatti

Tomás Millan

Victoria Bonetti

 

consultoria de estruturas

Heloisa Maringoni

 

imagens e perspectivas eletrônicas

Guilherme Bravin

Laura Tomiatti