pavilhão osaka
mmbb
equipamento público
2022
osaka - japão
projeto - concurso

Pavilhão musical
“O Brasileiro é um povo esplendidamente musical.”
Mario de Andrade, Ensaio sobre a Música Brasileira, 1928
A proposta de um pavilhão musical vai além do pensar um lugar onde músicas são tocadas. A ênfase sonora, aqui proposta, significa a construção de um espaço para coreografias corporais, potencializadas pelos reflexos infinitos dos espelhos, e a exaltação dos ritmos e da palavra cantada como expressões da afetividade brasileira. Pois a música é uma das artes que mais diretamente toca na emoção das pessoas, sem filtros de erudição ou maiores necessidades de mediação cultural. Além disso, no caso brasileiro, a música é internacionalmente reconhecida como a expressão artística mais marcante do país, capaz de expressar a afetividade criativa da nossa cultura, diversa e inclusiva.
Assim, o pavilhão será uma espécie de “caixa de ressonância” da musicalidade brasileira, ressaltando nossa riqueza rítmica e variedade idiomática, e traçando pontes entre expressões culturais mais tradicionais e suas atualizações na cena contemporânea. Um exemplo importante é a conexão entre o carimbó e a guitarrada paraense, abrindo caminho para o tecnobrega, tão marcante na cultura musical atual da região amazônica. Dentro dessa mesma linha de raciocínio, o pavilhão apresentará com destaque a produção musical de artistas indígenas jovens, tais como Ian Wapichana (Roraima), Edivan Fulni-ô (Pernambuco-Bahia), Brisa Flow (Minas Gerais) e Owerá (também conhecido como Kunumi MC), rapper guarani de Parelheiros, São Paulo.
Da guarânia pantaneira ao sertanejo, da seresta romântica ao forró e ao arrocha, do samba ao funk, incluindo o Tambor de Crioula, a batucada da Banda Didá Feminina, e os jogos de capoeira, o pavilhão brasileiro será uma festa do corpo e dos ritmos, multiplicada visualmente pelos reflexos do ambiente, apresentando ao público estrangeiro nossa imensa riqueza de dicções e capacidade de improvisação.
No campo das artes visuais, obras de artistas cuja prática se volta para a musicalidade das manifestações populares, as festas de rua, os rituais ritmados pelo canto e pelos instrumentos, serão as principais a ocupar o pavilhão. Suas imagens ecoarão pelo espaço do edifício por meio do jogo de espelhos proposto pelo projeto, multiplicando-se literalmente ao infinito, de modo a sugerir ao visitante uma experiência cinestésica de imersão.
Entre as imagens escolhidas estarão as cerimônias e danças dos povos originários do Brasil registradas por fotógrafas como Claudia Andujar e Maureen Bisilliat ou, mais recentemente por Edgar Kanaykõ, do povo Xakriabá, de Minas Gerais. As festas populares da Bahia, de Salvador ao Recôncavo, com suas cadências e ritmos que aproximam África e Brasil, estarão em destaque no pavilhão nas imagens produzidas por artistas como Lita Cerqueira, Adenor Gondim e Ayrson Heráclito. Luiz Braga traz a esse conjunto a luz estridente, as cores e a pulsação de Belém do Pará, bem como suas imagens grandiloquentes, quase operísticas, da floresta amazônica.
Outras mídias artísticas, como a pintura, merecerão espaço no pavilhão. Vale evocar aqui o célebre Carnaval em Madureira, de Tarsila do Amaral, uma entre as muitas obras que rende homenagem à mais conhecida das manifestações culturais do país. Uma vez que a Expo 2025 ocorre em Osaka, é imprescindível que se faça ainda referência à trajetória de tantos artistas japoneses que imigraram para o Brasil, constituindo nesse entrecruzamento de culturas suas poéticas. Nesse sentido, especial atenção será dada nessa seleção à produção de pintores como Tomie Ohtake, Manabu Mabe e Tikashi Fukushima. Artistas cuja linguagem é tributária de uma visualidade oriental, como é o caso da imigrante polonesa Fayga Ostrower, entre outros, terão presença no pavilhão, como também Beatriz Milhazes e Jaider Esbell, que, embora com sentidos tão diversos, exploram em suas composições intrincadas coreografias de formas e grafismos.
Ameríndios, afrodiaspóricos, ibéricos, europeus de muitas partes, árabes e turcos, orientais, e muitos outros povos se encontraram no Brasil, por processos históricos muitas vezes violentos, mas que produziram, na cultura, formas de expressão muito fortes e afirmativas. E uma de suas marcas mais reconhecíveis e impactantes é a falta de rigidez, associada a uma alta capacidade de comunicação e resiliência, adaptando-se bem às diferenças e adversidades. Entendemos que a ambiência dos espelhos e a transparência dos espaços evoca a permeabilidade da cultura brasileira, metaforizando essa ideia. Constrói-se assim uma base visual para que a potência musical brasileira comunique essas ideias em forma de emoção, mobilizando os corpos das pessoas que visitam essa porção de solo brasileiro no Japão.
Pavilhão musical: ecos e reflexos do Brasil para o futuro do mundo
arquitetura
Maria João Figueiredo
Marta Moreira
Milton Braga
colaboradores
Americo Fajardo
Gabriela Takase
Murilo Romeu
Rafael Migliatti
Tomás Millan
Victoria Bonetti
arquiteto licenciado e responsável pelo projeto em Osaka
EL3, Nobuhiko Maeda e Yuki Maeda
expografia
Valéria Piccoli
consultoria de estruturas e fundações
Evanina Marisa Ferreira
perspectivas eletrônicas
Panorama Studio
Laura Tomiatti
Guilherme Bravin





































