Em 2001 a Fundação Bienal de São Paulo organizou uma exposição para comemorar seus 50 anos, a qual contou com a participação de artistas, arquitetos e designers. A Instalação urbana Outrem foi desenvolvida para este evento, cujo tema era metrópole e cotidiano.

A instalação urbana foi proposta para colocar em evidência o extenso território fabril e ferroviário subutilizados de São Paulo, cuja transformação desejável, a ser desencadeada pela conversão em andamento dos antigos leitos ferroviários em sistema de transporte de passageiros de alta capacidade,
poderá ter importante papel na reorganização da metrópole. Consistiu em equipar com potentes projetores de luz um carro de manutenção ferroviária para percorrer os 270 km de trilhos da malha já
existente em operação pela CPTM.

Na proposta inicial, 16 viagens seriam efetuadas no período da exposição, percorrendo-se em cada uma delas um trajeto que configurasse aproximadamente um diâmetro da mancha urbanizada da Grande São Paulo. Por falta da prometida cessão dos projetores de luz por parte do fabricante, percorreu-se, com
projetores alugados, apenas duas vezes o trajeto Lapa - Rio Grande da Serra (diâmetro noroeste - sudeste), quando foram gravadas as imagens exibidas em uma video-instalação dirigida e montada no pavilhão da Bienal pelo cineasta Joel Pizzini, a convite dos arquitetos autores da instalação urbana.

Como um ponto luminoso em movimento, a instalação urbana procurou valorizar uma linha de articulação de sucessivos lugares, revelando um traço possível da medida da urbanização  “desmedida” de São Paulo.

Como um Bateaux Mouche parisiense, que mostra a cidade, confere valor ao que ilumina e enriquece a paisagem, procurou afirmar o potencial das infra-estruturas para a construção de formas significativas na
paisagem. O carro projetor, ao iluminar as passagens da cidade de modo especial, transformou a aparência destas, convertendo-se numa fábrica de imagens, numa
máquina de sentidos. E, neste ato de “escanear” a orla ferroviária, procurou revelar o estado de suspensão de um território promissor, potencializado pelo serviço de transporte público de alta capacidade e velocidade, pretendendo sugerir à imaginação um futuro desejável para este conjunto de espaços a serem reconstruídos e
reincorporados à vida cotidiana da metrópole.