Um projeto para as novas instalações do Museu dos Coches levanta, primordialmente para a arquitetura, duas questões básicas.

Do lado da Museologia, um critério básico para a exposição do notável patrimônio; do lado do Urbanismo, a implantação no recinto monumental, amparada no projeto governamental “Belém Redescoberta”.

Na Museologia, o projeto adota um critério centrado na idéia da preservação definitiva, para sempre, do tesouro guardado e a um só tempo visitado. Considerada a visita sob todas as formas possíveis de desdobramentos quanto à memória histórica, enquanto construção intelectual no tempo. Arte e técnica em constante andamento. Exposições e Oficinas, cenários cambiáveis. Som e imagens virtuais associadas aos artefatos originais.

No Urbanismo, uma disposição espacial empenhada na integridade do recinto, principalmente no caminhar da população turística já presente e certamente ampliada com a nova vitalidade que surge.

É de se notar aqui, dois eventos: a passagem aérea de pedestres presumida, na seqüência da Calçada da Ajuda até os jardins junto ao Tejo, no ancoradouro (transpondo Av. Índia, Av. Brasília, ferrocarril) e o conjunto de edificações preservadas (Belém Redescoberta), ao longo da R. Junqueira confrontando aos fundos com a área do Museu, antiga R. Cais da Alfândega Velha, com grande encanto para o lugar.

Estimula a iniciativa do pequeno comercio local e particular. São estas as raízes do Projeto que agora, junto aos desenhos e imagens de modelo estamos apresentando.

Não se trata de subestimar o programa estabelecido com todas suas funções e áreas determinadas, bem como os horizontes da verba destinada para o empreendimento. Estes são dados, digamos, inquestionáveis.

Como se vê, a construção está proposta de modo dual, pavilhão principal, nave suspensa para as exposições e um anexo com recepção, administração, restaurante, auditório e amparando estrategicamente a tomada, em rampas, para a passagem publica de pedestres até o Tejo. Esta peculiar disposição espacial cria um pórtico com a ligação aérea entre os dois edifícios de entrada para a pequena praça interna, um largo, para onde se voltam, (uma nova frente) as construções preservadas na R. Junqueira agora abertas para o recinto na forma, eventualmente, de pequenos cafés, livrarias ... no que era a R. Cais Alfândega Velha, interessante recomposição da mesma coisa. Seria de se notar, as cotas destes espaços e sua interlocução na dinâmica dos passantes, por dentro e por fora do que é, na totalidade, o Museu enquanto um lugar público. Rigorosamente protegido e imprevisivelmente aberto.

Adotou-se, além das escadas de segurança exigidas por lei, todo o acesso feito através de elevadores especiais, hidráulicos, que asseguram controle da capacidade dos espaços expositivos. Foi dada ênfase especial à parte de segurança e à do conforto e apoio aos funcionários do Museu. Para as crianças, fica reservada área especial na esplanada térrea do Museu com um jardim na fachada leste e junto ao pavilhão de acesso dos visitantes às exposições. Na face oposta voltada para a praça Afonso Albuquerque, na mesma esplanada pública térrea, fica uma grande cantina com caráter popular, aberta e com mesas também nas calçadas.

Gostaríamos ainda que fosse notada a ligação aérea entre o recinto das exposições e a administração. Com uma vista para o Tejo. Muito útil para os serviços em geral, para a política de segurança. E as amplas visuais, do Restaurante elevado, para o lado do Atlântico, dos Jerônimos, da Administração voltada para o Estuário, para o largo interno, os jardins do Museu.

A construção fica definida pelo afloramento das fundações em concreto armado, com relativa concentração de cargas como recomendam as condições do solo, onde se apóiam as treliças metálicas revestidas, configurando as grandes paredes do Museu.

Para os estacionamentos excluímos a solução subterrânea, devido às águas de subsolo, drenagem da esplanada e movimentação de terras com parco aproveitamento final e prejuízo da tranqüilidade do recinto. Sugerimos o estacionamento elevado proposto junto às barcas, com capacidade para 400 veículos e pequena ocupação no território. Que poderia ainda ser repetido oportunamente enquanto protótipo no projeto Belém Redescoberta.

O exame dos desenhos e modelo podem esclarecer melhor estas breves notas.

 

São Paulo, 28 de maio de 2008
Paulo Mendes da Rocha