A residência, situada no centro histórico de
Salvador, Bahia, conta com uma situação
privilegiada. Alinha-se no limite da cidade
alta junto à encosta voltada para a cidade
baixa e a zona portuária de Salvador. Assim,
conta com duas frentes muito atraentes: do
lado da rua, a sudeste, abre-se para a
animação e o “skyline” do centro
histórico; do outro lado, a noroeste,
desfruta das belas vistas da atividade
portuária e da Baia de Todos os Santos.
As duas frentes apresentam outras diferenças.
A fachada da cidade alta compõe-se com o
casario vizinho para formar um conjunto urbano
bastante coeso, quando visto deste lado. A
outra frente, voltada para a encosta, de modo
oposto, associa-se a uma série de fachadas
vizinhas quase todas reformadas que alternam
ritmos, proporções de cheios e vazios,
texturas e cores.
O próprio imóvel, já há algum tempo em
abandono, apresenta-se em ruína parcial. Da
construção histórica, resta apenas a
fachada da cidade alta sem intervenções
recentes que a descaracterizem. Alem dela, as
demais paredes perimetrais e a cobertura
encontram-se na posição original e
relativamente íntegras. Internamente quase
toda a construção ruiu. Portanto resta,
essencialmente, o “casco” colonial.
O projeto foi desenvolvido considerando três
aspectos principais: a condição de bem
histórico da residência, a qual compõe com
os vizinhos importante patrimônio
arquitetônico e urbanístico; o precário
estado da sua construção e da construção
vizinha; e a singular e privilegiada
situação urbana e geográfica da sua
localização.
Diante destas considerações, definiu-se, em
primeiro lugar, que o projeto deveria
restaurar apenas os aspectos históricos da
arquitetura da residência cuja recuperação
não implique numa significativa
reconstrução dos elementos originais e numa
conseqüente falsificação da construção.
Definiu-se também que toda nova construção
deveria ser claramente identificada e
distinguida da construção original e
passível de eventual remoção, garantindo-se
a reversibilidade das intervenções. E,
definiu-se, ainda, que as novas intervenções
não apenas não deveriam trazer riscos à
integridade física da construção
histórica, sobretudo durante as obras, como
também deveriam conferir estabilidade perene
à residência e contribuir, assim, para a
estabilidade dos vizinhos.
Do ponto de vista urbanístico, além da
óbvia manutenção da composição do imóvel
com o conjunto vizinho, foi considerada
adequada e mesmo estratégica a incorporação
das técnicas e dos costumes contemporâneos
na recuperação da residência e na
definição do seu programa, a fim de que ali
agora se constitua uma moradia atualizada,
cuja adequação ao presente contribua para o
estímulo do uso residencial da área,
fundamental para aumentar a sua dinâmica, ao
contrabalançar o peso predominante e
excessivo do atual uso turístico.
Partindo destas definições, o projeto
pautou-se, basicamente, pela preservação do
“casco” histórico da construção e pela
reconstrução do seu interior. Esta, uma vez
concluída, não apenas não se apoiará na
construção existente, como lhe servirá de
novo e reforçado arcabouço estrutural.
E, na organização do novo programa
residencial, construída com elementos leves e
pré-fabricados, o objetivo fundamental foi
conformar espaços contínuos e arejados que
integrassem as duas frentes e as duas vistas:
a da cidade alta e histórica e a da cidade
baixa e metropolitana; a do festivo cotidiano
vizinho e a da ampla perspectiva da Baia de
Todos os Santos.