Olímpiadas 2012
Diante dos conflitos do século xx, a idéia das Olimpíadas sustentou uma experiência e uma expectativa permanente de aproximação, confraternização e conhecimento entre todos os povos do mundo. Sua existência, enquanto instituição, criou um organismo, o Comitê Olímpico Internacional, empenhado na construção da paz. Os Jogos Olímpicos são, por razão dessa política, sediados de modo oportuno em determinados pontos estratégicos do planeta e identificam a cidade como a mais alta expressão dos ideais da humanidade.
Demonstrar as virtudes da vida futura da cidade, enquanto reivindica o privilégio de hospedar os Jogos Olímpicos de 2012, é o objetivo principal deste projeto. No sentido contrário ao da criação de uma cidadela olímpica como fato isolado, inconveniente ou distante na estrutura física urbana, a idéia é distribuir as atividades esportivas e de apoio dos Jogos Olímpicos nos diferentes locais da cidade que são servidos por um sistema de transporte público — especialmente linhas de metrô e trens expressos, vias e rodovias. Assim, o desejo que orienta este projeto estratégico-espacial é o de ver, ao arrumar a casa para receber os desejados visitantes, um pretexto para incentivar e desencadear antigos e insubstituíveis projetos de consolidação íntegra do sistema complexo e estrutural de engenharia urbanística de São Paulo. Um estímulo muito proporcional e cômodo, como evento, para os 12 milhões de habitantes que vivem seu dia-a-dia na cidade de São Paulo.
O plano visa abrigar as Olimpíadas no coração da cidade, no seio do seu traçado enérgico dos tempos modernos — industrial e saneado — das vias férreas e rodoviárias. Propõe intervir nos lugares que hoje, apesar da efetiva estruturação urbana, estão por contradição degradados, como acontece em todas as cidades dinâmicas do mundo: pátios ferroviários e instalações industriais em transformação, águas poluídas, indesejáveis, e inesperados espaços vazios. Assim, a proposta estabelece a urbanização de áreas abandonadas, construindo casas, edificando novos complexos destinados ao lazer, à cultura, à saúde e educação, no interior da trama urbana existente.
O partido do plano é orientado pelos canais dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí com o intuito de propiciar o reconhecimento da identidade geomorfológica da cidade de São Paulo e de sua característica fundamentalmente hidrográfica. Integra também a paisagem criada pelas ferrovias e rodovias, associada ao sistema em expansão do metrô.
Por essa razão histórica, foram organizados os recintos das instalações para os Jogos Olímpicos em posição estratégica, com conseqüente valor quanto ao reviver oportuno de memórias e aspectos riquíssimos da cultura, do esporte e da recreação do paulistano.
A despoluição das águas, o estabelecimento de um equilíbrio hidrológico na região dos rios e uma navegação de sustentação estão previstos nos planos da cidade como obras urgentes, como também estão as novas travessias, transposições e caminhos que articulam as áreas que foram divididas no primeiro instante das intervenções urbanas feitas no passado. Não se trata, portanto, de inventar uma nova cidade, mas de deixar evidente aquela que já existe e que não se vê.
Orientadas pela planta geral, as novas instalações estão dispostas em cinco núcleos:
Núcleo Água Branca
No trecho da várzea, situado entre as avenidas Francisco Matarazzo, Marquês de São Vicente e Marginal do Tietê, freqüentemente sujeito a inundações, a abertura de canais de drenagem perpendiculares ao rio Tietê, associados a outro, transverso e de proteção, ao longo da ferrovia, faz com que apareça uma nova paisagem na cidade: um projeto de sustentação básica do território. Procurou-se reorientar a urbanização do bairro com habitações de médio porte, populares, necessárias em São Paulo e requeridas pelo programa do Comitê Olímpico Internacional: a Vila Olímpica. Quanto aos espaços esportivos, são projetadas as construções de um estádio e de um ginásio olímpicos que se integram aos equipamentos já existentes na região, como o Memorial da América Latina, o Parque Antártica e o sesc Pompéia.
Núcleo Anhembi
A região da ponte das Bandeiras é historicamente uma área animada pelo lazer esportivo. Ao expandir essa qualidade, o plano quer fazer brilhar o desenho original da cidade que instalou ali os clubes Espéria e Tietê. Essa atualização da antiga vocação do lugar é sustentada com o tratamento das margens do rio e sua despoluição, que já possui obras em andamento. Também há a expectativa de certa navegação para turismo. A manutenção do próprio canal sugere novas
travessias para pedestres cruzando o rio e as pistas marginais, com acesso, por elevadores públicos, às áreas de atracação e diversão junto às águas. Nessa área, onde o rio Tamanduateí desemboca no Tietê, está prevista a construção da Vila de Mídia, além de um centro de logística, um centro de mídia, outro ginásio olímpico e o previsível complexo aquático.
Núcleo usp/Villa Lobos
Situada ao longo da margem norte do rio Pinheiros, a ferrovia, o desejado transporte público, sempre estimulou a criação de ligações para pedestres com a Cidade Universitária. A proposta de criar conexões entre a área do Parque Villa Lobos e o recinto da Universidade de São Paulo é, portanto, oportuna. Essas ligações são um estímulo para a abertura da Cidade Universitária à população por meio de atividades de esporte, cultura e geração de conhecimento. Para se efetivar essa relação desejável é proposta, para esse núcleo, a construção da Vila dos Juízes, do Complexo Esportivo de Tênis e do Ginásio Villa Lobos, e a necessária adequação do centro poliesportivo da Universidade de São Paulo.
Núcleo Parque Ecológico do Tietê
No caminho do aeroporto internacional de Guarulhos, seguindo as marginais do rio Tietê, se instala uma raia para o remo com 2.500 m de extensão por duzentos de largura, que deverá fazer parte da paisagem do Parque Ecológico. Uma relação interessante que se estabelece entre natureza e construção aparece com a forma de um retângulo perfeito, no nível superior das enchentes, um risco d’água, contraponto ao sinuoso e inconstante aparecimento natural. Quem chega à cidade, do aeroporto, poderá assistir a esses espetáculos esportivos, flutuando numa cota onde não há propriamente um território, mas a surpresa de uma “água suspensa”.
Núcleo Guarapiranga
A represa de Guarapiranga é um lugar consagrado de festejos domingueiros do paulistano, porém despreparado do ponto de vista da fruição de suas potencialidades, desamparado de obras públicas. Imaginou-se construir na frente das águas, aterrando largas esplanadas, praças de esporte e divertimentos públicos, com muralhas avançadas para que o nível variável da água não produza as praias de lama que hoje se formam no lugar. Com isso também se possibilita a atracação de embarcações de todo o tipo e se constrói uma nova paisagem consolidada no contraponto atraente entre a terra e as águas, como nas melhores cidades civilizadas do mundo. A festa do espaço público.